Vestido com camisa, calça e tênis brancos, o cantor tocou por quase 90 minutos para um público comportado, porém atento ao som desplugado do compositor. "É um show pronto pra preto!", disse o músico, que fez arranjos delicados, privilegiando as harmonias ao violão para alguns de seu clássicos, como "Refavela", "Barracos", "Mão da limpeza" e "Tenho sede".Foi um show mais quieto, com um Gil mais contido, inclusive no discurso.
Mesmo assim, não faltaram brincadeiras, como as que fez com o filho Bem, que tocou pandeiro em "Expresso 2222"."Nunca consegui aprender este instrumento.
Mas a vida é assim mesmo, os genes da gente vão se aperfeiçoando, as gerações chegam melhores e mais inteligentes. Bem está aí para confirmar isso", concluiu o cantor, que ainda dividiria os vocais com Angelique Kidjo, cantora e compositora da República do Benin, ao fim da apresentação.
"Esqueçam utopias"
Antes de Gilberto Gil assumir o comando da festa, a conferência “Construindo utopias”, que deu início oficialmente ao festival, teve seu tema logo rechaçado por Bob Geldof. “A utopia de um homem é a distopia do outro. Esqueçam isso. Utopias levam a assassinatos em massa”, afirmou o cantor irlandês e organizador dos megaconcertos "Live Aid" e "Live 8", que, em 1985 e 2005, respectivamente, fizeram com que os olhos do mundo se voltassem para a realidade dura da África.
Apesar do tom sério, o ex-líder da banda Boomtown Rats parecia à vontade diante das cerca de 1.500 pessoas acomodadas em cadeiras de praia coloridas dispostas diante do palco.
"É um prazer estar no Brasil pela primeira vez. Desculpem o fato de eu não saber falar português. E, se não se incomodarem, prefiro falar andando, pois assim consigo pensar melhor", explicou.Mediado pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa, o debate também contou com a participação do artista sul-africano Breyten Breytenbach, nome importante na luta contra o "Apartheid" nos anos 60. "É uma ideia fracassada querer transformar o continente africano em um único todo. Esta definição de 'estado-nação' não corresponde às necessidades e expectativas de seus povos", destacou Breytenbach, que foi logo apoiado por Geldof.
O irlandês também destacou a contribuição do rock 'n' roll na construção de sua consiência política e social, e afirmou que o gênero músical é a verdadeira "cultura global e língua universal".
"Quando eu era garoto, rock e política eram a mesma coisa. John Lennon, Bob Dylan, Pete Townshend, Mick Jagger... Essas pessoas criaram a retórica da mudança para mim", revelou o ativista político, que acabou por fazer uso da música pop em benefício do continente africano.Youssou N'Dour, Marisa Monte e Gilberto Gil encerram a noite com "Blowin' in the wind".
Mesmo pouco conhecido por aqui, a plateia aprovou a mistura de ritmos do senegalês, que ainda contou com a participação de Marisa Monte na canção "Seven seconds", gravada com Neneh Cherry em 1993, e que o tornou um nome conhecido mundialmente. Marisa ainda encaixou alguns versos de "Vapor Barato", de Jards Macalé e Waly Salomão, em uma passagem dub da mesma música, o que sugeriu uma homenagem ao poeta morto em 2003.No fim, Gilberto Gil retornou ao palco com Marisa, que vestia uma camisa preta com a frase "Cadê a ética", para o último número, o hino sessentista de Bob Dylan "Blowin' in the wind", em versão raggae. Foi executada duas vezes a pedido de N'Dour.
O festival prossegue neste sábado (29), com a conferência "Cultura e desenvolvimento", que terá a participação do cineasta Gavin Hood, e os shows de MV Bill, Banda Black Rio & Convidados, além do funk do DJ Sany Pitbull.
Para saber mais sobre o BACK2BLACK:
Gil abre Festival Back2Black no Rio
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